Dermatoses em Felinos (I)

Dermatose é um termo genérico que é usado para descrever alterações na pele e pêlos.
Aqui, veremos dermatoses que são relativamente comuns em gatos, como: dermatofitose, sarnas, carcinomas, atopia e outros.

1) Dermatofitose:

Causada por fungos Microsporum canis (zoofílico, passa para o homem e vice versa), Microsporum gypseum (geofílico : espécie que habita normalmente o solo e na matéria vegetal, mas ocasionalmente pode infectar animais domésticos), Tricophytom mentagrophites (zoofílico).
O gato é o carreador assintomático do Microsporum canis, ou seja: ele tem o fungo em seu pelo/pele sem causar nenhuma lesão até que algum fator desencadeante o desperte.
São fatores predisponentes para que o M canis cause lesão no animal:

* Idade (mais em jovens do que em adultos)
* Stress ou doença debilitante
* Imunodeficiencia
* Nutrição inadequada
* Terapia imunossupressora concomitante

A contaminação se dá por contato direto com outro animal ou por objetos contaminados.
O ato do gato se lamber, faz com que os esporos sejam retirados dos pelos. Com iso, gatos de pelo longo são mais acometidos que os de pelo curto, já que não fazem a limpeza por completo e pegam menos sol  na pele.

O M canis provoca lesões ulcerosas úmidas ou secas, em forma de anel.




Além disso, o M canis pode causar a lesão chamada Kerion, que é uma placa com secreção purulenta viscosa que se prende aos pelos do animal.


                                                               (kerion)
                                                          (via dermatopet)

O M gypseum causa lesão hiperqueratótica proliferativa na face e patas.

                                                          
                                            (via www.dermvetvegas.com )

O T mentagrophites causa uma lesão mais úmida e exsudativa, geralmente na face, inflamação mais severa, mais demarcada.

Sinais clínicos gerais das dermatofitoses: lesões diversas e variadas, úmidas, com pus. São pruriginosas (causam coceira) e provocam auto mutilação intensa. Pode iniciar com uma única lesão, mas como o animal se lambe, transfere hifas para todas as partes do corpo.




O diagnóstico se faz atraves do raspado de pele, cultura ou biópsia. O M canis pode ser visualizado atraves da lampada de Wood (fonte de luz ultravioleta)


                                                       (via palmaressemdengue)

O tratamento é longo (pelo menos 4 semanas) com medicamento de uso tópico (banhos com shampoos especiais, cremes) e uso oral. Importante tosar o animal,  separar dos demais, e fazer uma desinfecção do ambiente, pois o M canis pode viver até 2 anos em ambiente propício.

Aqui abro um parenteses para salientar a importancia do Médico Veterinário em diagnosticar e tratar gatos com essa doença. Muitos leigos teimam em utilizar blogs com o intuito de 'economizar' na consulta, e o barato pode sair muito caro. O gato é extremamente sensível à medicação que normalmente se usa no homem e até no cão, podendo apresentar lesões medulares graves.
Por isso, não medique seu gatinho por conta própria. Ele pode pagar o preço com a vida.


2) Esporotricose

É uma micose profunda, é uma zoonose e é geofílica.

Doença causada por um fungo, o Sporothrix schenckii, que pode ser encontrado em algumas plantas e locais de pouca higiene (áreas carentes principalmente). Pode ser adquirida através de ferimentos obtidos no manuseio de vegetais contaminados, ou no contato com a terra infectada.
A infecção ocorre quando o fungo é inoculado no tecido subcutâneo. Como na maioria das vezes a pessoa adoece por ter se cortado com espinhos, a esporotricose também ficou conhecida como "doença da roseira".

Os sinais clínicos são: sinais cutaneos: lesões nodulares ulcerosas e hemorrágicas no focinho e membros anteriores. Pode causar conjuntivite grave quando lesa os olhos. Também pode destruir a estrutura do focinho e levar até a morte.
                                     sinais extracutâneos (pulmonar e disseminada) : são casos graves, onde a lesão se espalha. Apatia, falta de apetite, febre e perda de peso são sintomas da disseminada. Espirros, tosse, fadiga, eissão de sangue pelas vias respiratótias são sintomas da forma pulmonar.

# Abro parênteses mais uma vez:

SIM, as lesões são feias.
SIM, é uma zoonose.

Mas a doença é TRATÁVEL e não é motivo para requerer a eutanásia do gatinho, ou sua mutilação.
A doença começa com uma ferida no nariz e se esta demora a cicatrizar mesmo com o tratamento habitual, é um bom motivo para levá-lo ao Médico Veterinário. Ele fará exames e poderá diagnosticar a doença e tratá-la.

Outra opção é contactar a FIOCRUZ  [3865-9536 (Serviço de Zoonoses – IPEC, Manguinhos na Av. Brasil)] e marcar uma consulta.

O diagnóstico pode ser feito pela microscopia direta, cultura e biópsia.

O tratamento é sistêmico, de duração prolongada. Concomitantemente o ambiente deve ser tratado com água sanitária ou cloro.

Recomendações:

 - Isolar os gatos suspeitos ou doentes de outros animais, mantendo-os dentro da residência.
 - Procurar manusear o animal com luvas de látex e após o uso, lavar as luvas com água e sabão (medidas básicas de higiene são IMPORTANTÍSSIMAS)
 - Desinfetar o ambiente com água sanitária ou cloro.
Não oferecer alimentos com leite ou derivados JUNTO com a medicação (interage com a medicação prescrita)
 - Os animais mortos devem ser cremados, para não haver contaminação do ambiente
- Castrar os animais que vão a rua é uma medida preventica importantíssima, que, por circularem pela rua, são mais propensos a brigas que podem causar feridas e acidentalmente abrigar o fungo.


3) Carcinoma do Gato Branco (Radiodermite por Raios UV)

Ocorre principalmente em gatos a partir dos 4 anos de idade. O carcinoma espino celular é um tumor cutâneo que afeta regiões mais claras e/ou despigmentadas., com pouco pelo (nariz, orelhas pálpebras e lábios). Apesar do nome, não são só gatos brancos quesão afetados: qualquer felino que apresente despigmantação nas áreas acima corre este risco.

A exposição excessiva a luz solar provoca alteração celular, originando uma lesão de  pele que resulta em um tumor quase sempre maligno (carcinoma).
Em um processo inicial, o animal apresenta hiperpigmentação, crostas,  escamas, alopecia.
Depois, a lesão tem carater mutilante, a orelha fica como que enrugada e há  prurido sanguinolento.


A cirurgia para remoção da área afetada é uma forma de combater a progressão (que é muito rápida) da doença se ela for detectada rapidamente. Se a lesão for muito extensa, recomenda-se o tratamento com quimioterapia (sucesso razoável) e crioterapia.









                                                (animal já tratado, sem partes da orelha)





Amanhã trarei mais algumas dermatoses felinas.

Até lá!



(sosfelinos, webanimal, petfeliz, aquisoentragato)


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