Otite Externa e Média

Otite é inflamação do conduto auditivo externo. Pode ser externa, média ou interna.
Aqui trataremos das duas primeiras.

Uma inflamação crônica resulta na alteração do ambiente normal do canal: o canal externo da orelha é alinhado com o epitélio e contám glândulas apócrinas (que produzem cerumem) modificado. Na otite, as glândulas aumentam de volume e produzem cera em excesso. A epiderme e a derme se espessa, e se tornam fibróticas. O espessamento das dobras do canal reduz a largura do canal, e o resultado final é a calcificação da cartilagem auricular.



                                                           (aspecto da otite externa)


*Causas Primárias:

São fatores que podem causar otite externa sozinhos, com ou sem a presença de fatores predisponentes ou perpetuantes. Para o sucesso completo de uma terapia a longo prazo é fundamental que a causa primária seja tratada.

Parasitas
Otodectes cynotis, Demodex canis, Demodex cati, Sarcoptes scabiei, Notoedres cati
e várias espécies de parasitas estão associados com otite externa em cães e gatos.

Hipersensibilidades

Alergia atópica, alergia a alimentação e alergia de contato são possíveis causadoras de otite externa, que pode ser gravada por traumatismo determinado pelo próprio animal.

Devido a sua alta incidência, a atopia está mais associada a otite externa que as outras doenças alérgicas mencionadas. Uma característica comumente observada na otite externa em casos de atopia é um acentuado eritema no pavilhão auditivo externo e na parte vertical do conduto auditivo, enquanto que as partes mais profundas destes permanecem normais. A inflamação crônica pode eventualmente levar a infecções secundárias por bactérias ou leveduras.


Queratinização

As alterações de queratinização geralmente determinam uma otite ceruminosa crônica. Raças predispostas a seborréia crônica idiopática tendem a apresentar este tipo de otite. Endocrinopatias podem resultar neste tipo de otite, mais possivelmente por alterar a queratinização e a função glandular local. Em muitas ocasiões, a otite externa é uma pista para o diagnóstico destas alterações endócrinas.

Corpos estranhos

Corpos estranhos, tais como folhas, sementes, sujeira, areia e medicação seca são freqüentemente responsáveis pela otite externa. Em raças de pêlo curto, pêlos soltos podem se alojar no canal auditivo, provocando inflamação.


Alterações glandulares

Qualquer alteração que altere a secreção sebácea pode levar a otite externa. As glândulas apócrinas podem se apresentar hipertrofiadas e a hidroadenite (inflamação destas glândulas) pode estar presente. Entretanto, a hidroadenite é, na maioria dos casos, secundária a inflamação, e não propriamente uma alteração primária de otite externa.


Alterações auto imunes

Doenças dos complexos Lúpus e Pênfigo são as causas mais comuns de alterações dermatológicas autoimunes. Freqüentemente afetam o pavilhão auditivo externo.



* Fatores Persistentes:

Infecções bacterianas secundárias

Comuns. O Staphylococcus intermedius está muitas vezes presente nas culturas do canal horizontal nas otites externas; Pseudomonas spp, Proteus spp e  E coli são frequentemente reportados; Pseudomonas spp muitas vezes presente nas culturas em otites médias.

Outras infecções:

Malassezia pachidermatis está misturada aos outros agentes ou é a única encontrada; outras leveduras candida) ou espécies de fungos são raras.

Alterações progressivas: Hipertrofia do canal, hiperplasia da glândula apócrina e adenite, fibrose e calcificações da cartilagem, causa recalcitrante de otite externa : tudo isso evita o retorno ao normal do canal auricular, mesmo com tratamento apropriado.



* Fatores de risco: 

Conformação anormal do canal externo ou relacionada à raça (como estenose, hirsutismo e orelhas pendentes) restringe o fluxo de ar apropriado para o canal.


Umidade excessiva: natação ou limpeza frequente com soluções inadequadas.


Doenças sistêmicas subjacentes produzem anormalidade no ambiente e na resposta imune do canal auricular.

Sinais Clínicos: 
- Chacoalhar a cabeça com muita frequência 
- Coçar frequentemente com as patas o conduto auditivo e orelha.
- Presença de pus/sangue/cerume escuro ou verde ou amarelo dentro do conduto
- Presença de parasitas visíveis andando no conduto auditivo
- Apatia, anorexia
- Febre
- Dor à palpação ou mesmo sem ela. Dor ao coçar.


Diagnóstico:
O diagnóstico de otite externa é facilmente feito pela história e pelo exame físico, mas alguns testes devem ser feitos para que se determine os fatores primários e perpetuantes, de modo a se direcionar a conduta terapêutica.

Avaliação citológica


A avaliação citológica do exudato geralmente não estabelece o diagnóstico definitivo, mas é de grande valor em determinar quais os agentes infecciosos podem estar presentes no canal auditivo.


Cultura e testes de sensibilidade

Estes testes não devem ser realizados sem uma prévia avaliação citológica ou ainda sem que o exame citológico demonstre a presença de bactérias e leucócitos. A indicação primária para a realização destes testes é otite média com bastonetes, quando certamente será prescrita terapia sistêmica.

Certamente que muitos outros testes devem ser realizados para que se consiga um diagnóstico definitivo. A determinação de quais testes serão os mais apropriados e mais efetivos dependerá dos achados na anamnese e no exame clínico.

Tratamento:

A terapia efetiva para o tratamento da otite externa está na dependência da identificação e controle das causas primárias e predisponentes, sempre que isto for possível. Além disto, a limpeza dos canais auditivo externo e médio, o uso de terapia tópica e sistêmica podem ser necessários para a eliminação ou controle efetivos de fatores primários ou perpetuantes.
A colaboração do proprietário é essencial para o sucesso no tratamento. Para que isto ocorra é muito importante que ele seja conscientizado do problema e dos diversos passos de seu tratamento, especialmente se serão necessárias diversas limpezas com o animal sedado ou até mesmo anestesiado.

Limpeza
A primeira etapa do tratamento da otite externa deve ser a limpeza adequada do canal auditivo para a remoção de crostas, células mortas e secreção. Esses materiais aumentam a reação inflamatória local, dificultam a visualização e inspeção do canal auditivo e tornam ineficiente o tratamento com medicamentos tópicos. Deve-se ressaltar que a não limpeza ou a limpeza incorreta do canal auditivo é uma das principais causas de falhas no tratamento de otites externas.


Agentes para terapia tópica


Não existe um único agente ou tratamento que seja perfeito. O clínico deve prescrever o tratamento para cada ouvido de acordo com o efeito desejado. A medida que o caso progride, adaptações na terapia deve ser feitas. Independente da base a ser escolhida, deve-se levar em conta o veículo. De modo geral, as lesões secas, descamativas e crostosas são largamente beneficiadas se bases oleosas ou emolientes são utilizadas. Ouvidos com secreção úmida ou exsudação purulenta devem ser tratados com soluções ou loções, sendo que nestes casos se faz necessária a remoção destas por sucção e o uso de agentes secantes. Os cremes não são freqüentemente uma boa escolha, pois além de serem de difícil aplicação até o canal horizontal podem piorar o quadro, quando utilizados repetidamente pelo proprietário.
Terapia Sistêmica
A terapia sistêmica é indicada se a otite média está presente. Antibióticos e antifúngicos apropriados devem ser utilizados até uma semana após todos os sintomas clínicos e otoscópicos tenham desaparecido.
A terapia sistêmica com glucocorticóides é recomendada em casos de otite externa extremamente inflamados ou em que as alterações progressivas tenham causado acentuada estenose do canal. Em casos de extrema estenose do conduto auditivo, a aplicação de corticóides intralesionais podem ser mais efetiva que a terapia tópica.

Cirurgia
É indicada quando há severa estenose do canal, quando se faz necessária a remoção de tumores ou pólipos e quando o animal possui uma otite média resistente a medicação. Para que melhores resultados sejam obtidos é necessário que o diagnóstico primário seja feito antes da cirurgia. Muitos cães são submetidos a este procedimento e continuam sofrendo de otite externa.

Para mais informações e fotos sobre a cirurgia:

http://cirurgiavet.wordpress.com/tag/ouvido-canino/


Prevenção e cuidados:

. Higiene freqüente dos ouvidos (2 vezes por semana) com solução indicada, limpando a parte externa da orelha e o ouvido externo; não limpar a parte interna.

. Durante o banho, evitar entrada de sabão, água ou shampoo, protegendo os ouvidos com algodão; usar quantidade suficiente para tampar bem o ouvido e nunca esquecer de retirar após o banho.
. Após passeios em praças, parques ou contato com água, limpar as orelhas e observar se há algum desconforto (dor) ou se algo incomoda o cão, fazendo com que balance a cabeça; isso acontece quando há um corpo estranho dentro do ouvido, que pode levar à otite.
. Utilize soluções especiais de limpeza e nunca use antibióticos, antiinflamatórios e antimicóticos sem prévia indicação do veterinário; medicamentos errados agravam o quadro e provocam reações indesejadas.
. Animais com histórico freqüente de otite devem fazer exame otoscópico a cada 4 ou 6 meses, principalmente na primavera e verão; isso evita as recaídas.





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